Impossibilitado de expressar-me nos Congressos Brasileiros de Missões, gostaria de trazer a tona um assunto que tem sido motivo de minhas orações e preocupações, e creio serem importantes, e que devem servir para reflexão e discussão da liderança de missões em nossa pátria.

Entendo que estamos batalhando isoladamente e, muitas vezes, competindo entre nós, procurando trazer a nossa visão própria em vez de avaliarmos o que o Senhor quer e, então avaliarmos o movimento de missões no Brasil em todas as áreas. Isto me faz lembrar de certo atirador que causava admiração àqueles que viam a precisão de seus tiros: todos eles acertavam o alvo. Um certo admirador quis surpreendê-lo. Levantou bem cedo e foi observar o atirador. E escondido viu que ele atirava nas árvores e depois circundava o local acertado para fazer parecer que havia acertado o alvo.

Quantas vezes agimos da mesma maneira ao acreditarmos que estamos acertando o alvo porque estamos exportando o modelo brasileiro de missões para toda a América Latina, usando o exemplo das nossas organizações missionárias, que infelizmente, na realidade, não estão alcançando o objetivo de levar as Boas Novas os não alcançados. Mostrarei isso no decorrer deste artigo.

O elitismo em missões é preocupante.
Somente alguns teóricos têm coordenado e direcionado o processo missionário em nossa nação, em detrimento de uma participação mais ampla de uma camada de práticos em missões, ou seja, os verdadeiros missionários que têm pago um preço muito alto para desenvolverem seus ministérios.

Vejo que muitos acadêmicos em missões são teóricos alienados da realidade missionária. A maioria não tem comprometimento com a obra missionária e outros são verdadeiros críticos de missões transculturais.

Tive contato com um pastor mestrado em missões nos Estados Unidos, que realiza congressos importantes no Brasil e conta com uma grande participação de pastores brasileiros.
Esse pastor impediu que Frank Dietz, ex-diretor do antigo navio Doulos, cuja experiência em missões transculturais ultrapassa a marca dos 45 anos, pregasse em sua igreja. Este pastor tem ainda questionado a Janela 10-40, dizendo que a delimitação desta área foi inventada por norte americanos, que agora queriam usar os latinos como buchas de canhão. Uma tremenda aberração!

São necessários, mais do que nunca, crentes nobres como foram os bereanos, pensadores e questionadores, que checavam os ensinos paulinos com as Escrituras Sagradas, e assim mesmo foram elogiados pelo Apóstolo.

Steve Saint, filho de Nate Saint, um dos cinco missionários mártires no Equador cuja história dramática está relatada no livro Piloto das Selvas, diz em seu livro A Grande Omissão (The Great Omission):

“O nosso hábito de enviar poucas tropas especializadas para lutar contra o inimigo, e deixarmos a maioria dos cristãos fora desta batalha espiritual é a nossa Grande Omissão”.

Entendo e valorizo a preparação para todo o Corpo, mas também sei que todos têm que amar a missão de alcançar os perdidos, não esquecendo os menos alcançados pelo Evangelho. A ÁSIA tem 85% dos menos evangelizados.

É hora de empreendermos esforços para alcançar os não alcançados e esquecidos pela igreja evangélica no mundo. Observe alguns dados:

O Desafio:
– Há 24.000 povos no mundo dos quais 6.800 precisam ser alcançados;
– Há 6.987 línguas no mundo e 2.000 delas não têm nenhuma parte da Bíblia traduzida;
– 85.000 morrem a cada dia sem nunca terem ouvido de Cristo.

O que temos:
Somos a terceira maior igreja do mundo e precisamos de 150.000 crentes para sustentar um missionário dentro da Janela 10-40.
Investimos, em média, somente R$ 1,66 por pessoa por ano para missões transculturais.

Ao ver o grande desafio e o elitismo atual, lembro-me que Martinho Lutero também viveu tempos críticos. Naquela época, chamada de Idade Negra, sacerdotes conduziam as cerimônias religiosas numa língua inacessível ao povo e de costas para a congregação, demonstrando menosprezo pela sociedade presente. Os religiosos se esconderam nos mosteiros e alienaram-se do mundo, tentando ser mais santos. Martinho quebrou os paradigmas da época traduzindo vários textos bíblicos na língua do povo, distribuindo-os em diversas regiões e causando um tremendo impacto na Europa. Lutero levantou várias teses contra o sistema religioso, expostas na porta da sua catedral, revolucionando a sua nação e outras também.

A Horizontes trabalhou forte para popularizar missões dentro da igreja brasileira. Para isto produziu artigos escritos por missionários de diversas organizações para distribuí-los indiscriminadamente. Seus membros foram incompreendidos por produzir algo latino a um custo acessível.

A Horizontes tem trabalhado na conscientização missionária e alertado quanto ao perigo de se investir prioritariamente no ter, ao invés de no ser. Por exemplo, investir em estruturas físicas, deixando de investir na formação de vidas.

Nos esforçamos para produzir literatura, vídeos missionários, mapas, globos, cartões de oração e cursos de orientação missionária.

Os recursos gerados através de nossas publicações foram aplicados no sustento de nossos estudantes da escola missionária.

O Movimento AD2000 e Além teve um papel preponderante neste processo de conscientização missionária aos povos não alcançados ao produzir materiais que ajudaram a igreja no mundo todo. Suas redes de trabalho tiveram um papel relevante em missões transculturais, e após o encerramento de suas atividades, em março de 2001, vimos que a rede que permaneceu e se solidificou em nosso país foi o Brasil 2010.

A literatura deste movimento, como: Maghreb, Janela 35-45 e o respectivo mapa, Chifre da África, Shalom-Salam, entre outros, não interessaram a nenhuma editora por não serem comerciais. Luis Bush, ex-diretor do Movimento ofereceu-nos os direitos autorais e a arte gráfica sem nenhum custo. Publicou esse material vital para o despertamento da igreja brasileira para regiões que até então não conhecia .

Quantos líderes já leram sobre esses assuntos e se interessaram por tê-los em nossa língua? Entre os livros está “A Igreja é Maior do Que Você Pensa”, do pesquisador e professor Patrick Johnstone, um missionário que conhece a história de missões e trata de assuntos tabus, como a importância da trilogia em missões: unidades e sincronia das igrejas, organizações missionárias e juntas denominacionais no recrutamento, treinamento, envio e acompanhamento do missionário no campo e no retorno à pátria. Patrick disseca assuntos polêmicos com muita propriedade e base bíblica, além de fornecer dados da realidade missionária em nossa geração.

O livro “Tochas de Júbilo” não estava sendo reeditado porque suas vendas eram de somente 150 exemplares por ano.

Falta a líderes e professores de missões conhecimento sobre a importância dessa literatura do despertamento e na orientação missionária transcultural. A Editora Vida, detentora dos direitos autorais fez uma parceria com a Horizontes produzindo uma tiragem especial a um custo especial, cabendo a nós a divulgação do livro.

Essa parceria foi estendida a outros livros, como: Por Esta Cruz Te Matarei e Véu Rasgado e outros.

Penso que se todas as organizações missionárias unissem seus esforços para produzir e divulgar materiais sobre missões tudo seria diferente. O que nos impede de unirmos esforços? Seria o trabalho estafante pela sobrevivência? A competitividade? O nosso egoísmo? As discriminações?
A Global Conections, ou Aliança Evangélica da Grã Bretanha, ofereceu-nos 5 mapas em cores, com informações sintetizadas de regiões e assuntos relevantes para missões.

Oferecemos os mapas a AMTB, Associação de Missões Transculturais do Brasil, que não os puderam aceitar por falta de estrutura.

O primeiro artigo sobre a Janela 10-40 em português foi produzido somente quatro anos depois que foi apresentado em inglês e saiu também pela Horizontes.

Glenn Myers, pesquisador da WEC Internacional, Missão Amem no Brasil, pesquisou 10.000 páginas para produzir um livreto de 70 da série Perspectivas, que tem livretos como: Crianças em Crise, Pobre Entre Os Pobres, Região do Sahel Africano, Aro de Fogo região que abrange a Indonésia e Malásia, Nômades, Índia, Rota da Seda ou Janela 35-45, nova nomenclatura para esta região. Mesmo sendo resultado do trabalho de um dos maiores pesquisadores do mundo, para alguns esta série não é considerada comercialmente viável. Hoje estamos disponibilizando uma biblioteca missionária por 40% do valor, pois estamos mudando para o Continente Menos Evangelizado.

Realmente, nós líderes de missões não temos dado ênfase a estas regiões do mundo. Não temos incentivado nossos crentes a lerem nem a pesquisarem.

Nossos estudantes de teologia não têm tido uma visão global do mundo e nossos pastores têm medo de investir em missões.

Creio que já chegou a hora de revermos os nossos currículos escolares para dar a missões a tônica devida. Missões é a prática da teologia.

Somente a oração e nossa atitude intencional poderemos mudar a história de missões no Brasil e consequentemente, o destino eterno de povos, raças, línguas e nações.

Esse artigo está dividido em 3 posts. Clique aqui e continue lendo – Parte 2

David Botelho é conhecido como estrategista de Missões Transculturais aos Povos Não Alcançados. Escreveu vários livros e é articulista de vários jornais e revistas. Botelho é diretor da HORIZONTES AMÉRICA LATINA que já treinou mais de 4.300 alunos presencial e a distância. Saiba mais.

 

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