As palavras têm poder

No livro de 2 Reis, capítulo 5, conhecemos a história de Naamã, um general sírio, que era leproso e o profeta Eliseu recomendou que se banhasse no rio Jordão para ser curado. Após certa resistência, ele atendeu e sua pele foi purificada. A narrativa é bastante conhecida dos leitores da bíblia e lembra que em sua soberania, Deus opera milagres com o que pode parecer incoerente. Mas neste texto, o destaque não é sobre a cura de Naamã e sim sobre a menina judia que com dezenove palavras, mudou uma história e fez com que Deus fosse conhecido e glorificado em uma nação pagã.

Não conhecemos seu nome, a narrativa bíblica apenas diz que dentre os cativos judeus que as tropas da Síria levaram, havia uma menina que foi servir à mulher do general Naamã (5.2) Em seguida, o texto nos informa que vendo a condição de leproso de seu senhor, a menina, provavelmente uma jovem em idade de trabalhar como pajem ou serva, disse à sua senhora: “Tomara que o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra.” (5.3 – ARC)

Essa história tem um interessante aspecto missionário. A jovem judia que poderia estar indignada por ser deslocada de sua terra, de sua família, de seu culto religioso, trabalhando como serva de uma família pagã, decide ser canal de benção. Poderíamos conjecturar um pouco mais.

Sabendo que Deus é soberano, ela poderia estar revoltada por ser cativa, pois desde o Egito, o Senhor prometeu livrar seu povo (Ex 6.2-12). Ela também poderia ter optado por manter-se calada e não mencionar que caso seu senhor procurasse o profeta Eliseu, seria curado; afinal por que procurar o bem daquele que dominou seu povo e a levou cativa (?).

O texto bíblico não nos informa sobre o cotidiano da jovem judia, mas inferimos que tinha convicção de sua crença e amava a Deus incondicionalmente. Sim, pois como afirmou o pastor  norte-americano Vance Havner: “o primeiro requisito para ser missionário não é o seu amor pelas almas […] mas seu amor por Cristo.” Quando amamos a Deus, transborda em nós o anseio em fazê-lo conhecido por todos, independente da condição que tenha. Acrescente-se que amar o próximo é recomendação de Jesus como o segundo mandamento mais importante conforme Marcos 12.31.

Na vida diária do cristão que ama a Deus, o cumprimento da missão é essencial e não é tarefa extraordinária ou fatigante, é parte constitutiva de seu ser. Por ter ciência da bondade divina e seu plano de salvação, o cristão anseia compartilhar das boas novas com todos que o circundam e em todas as circunstâncias.

Na sociedade contemporânea que cultiva valores hedonistas e narcisistas, aquela menina judia teria inúmeras razões para se lamentar ou mesmo para se rebelar por estar em condições adversas àquela ideal, distante dos seus e de sua terra. Ainda que temporalmente distante de nós, afinal é uma história ocorrida na antiguidade oriental, podemos aprender com a resiliência daquela jovem. Não há indício de lamentação e diante da condição indesejada, depreendemos que possuía um coração grato a Deus, por isso, ansiava que outros também o conhecessem como o Todo Poderoso. Ela foi ‘missionária’.

Tantas e tantas vezes parece que fazer missões é tarefa difícil e não raro, os cristãos utilizam de subterfúgios para justificar não participar. Não sabe falar adequadamente, não tem preparo teológico, não possui dinheiro para se manter, não sabe a língua (ou cultura) do povo, ainda não realizou algum projeto pessoal, e a lista de nãos pode se alongar…

O texto de 2 Reis 5 nos relata que Naamã foi curado e declarou sua fé no Senhor Deus, no entanto não ficamos sabendo mais sobre aquela jovem judia. E aqui há uma lição: as dezenove palavras que formaram a frase enunciada por ela causaram um alvoroço na Síria, a ponto de o rei mobilizar-se (5.5) e resultou em um milagre que atravessou séculos e milênio como testemunho do poder de Deus.

Não sabemos o resultado do trabalho que executamos para o Senhor Deus. Ele nos assegura em sua Palavra que devemos ser firmes, constantes e abundantes, pois nosso labor não é vão (1 Co 15.58). A história da menina judia anônima demonstra que não há barreiras para anunciar o Evangelho. O cristão deve ser missionário – falar das boas novas – onde estiver, onde Deus o enviar (próximo ou distante) e em todas as oportunidades (Sl 81.10).

Colunista: Sandra Mara Dantas

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