A Escória da Sociedade Evangélica Brasileira do Século XXI

“Vocês já têm tudo o que querem! Já se tornaram ricos! Chegaram a ser reis — e sem nós! Como eu gostaria que vocês realmente fossem reis, para que nós também reinássemos com vocês! Porque me parece que Deus nos colocou a nós, os apóstolos, em último lugar, como condenados à morte. Temo-nos tornado um espetáculo para o mundo, tanto diante de anjos como de homens. Nós somos loucos por causa de Cristo, mas vocês são sensatos em Cristo! Nós somos fracos, mas vocês são fortes! Vocês são respeitados, mas nós somos desprezados!
Até agora estamos passando fome, sede e necessidade de roupas, estamos sendo tratados brutalmente, não temos residência certa e trabalhamos arduamente com nossas próprias mãos. Quando somos amaldiçoados, abençoamos; quando perseguidos, suportamos; quando caluniados, respondemos amavelmente. Até agora nos tornamos a escória da terra, o lixo do mundo”. Apóstolo Paulo

Em termos sintéticos podemos afirmar com muita convicção que o missionário brasileiro transcultural é a escória da sociedade evangélica.

Neste momento de grande frustração, desilusão e decepção, desejamos tornar público o nosso desabafo, será que temos direito a isso?.

Cremos que seriam necessários mais apologistas para defender esta classe que é esquecida, desprezada, ignorada, menosprezada e por que não dizer que é até mesmo rejeitada.

Não nos foi implorado para fazer tal declaração, mas diante da crua realidade vista em nossa pátria, nesta conjuntura, há uma demanda intrínseca em nossas vidas que não pode se emudecer diante dos fatos aqui relatados.

É verdade que há alguns raros privilegiados, apoiados por igrejas e pastores sérios que amam a causa missionária.
Mas são exceção.

O que quero chamar a atenção aqui é para a maioria humilhada, sofrida, resignada e distinta categoria de milhares de missionários que, embora imprescindíveis para a expansão do reino de Deus na terra, hoje é desprezada e abandonada.

O que é um missionário transcultural?

É aquele que trabalha com outra cultura diferente da sua.

Ele não precisa ir para outro país para ser incluído em tal classificação, pode trabalhar com povos indígenas, que possui mais de 100 tribos sem nenhum obreiro, ou outras etnias: bolivianos, chineses, árabes, japoneses ou haitianos que moram aqui.

Ele não precisa aprender outra língua para ter tal ministério, pois pode trabalhar em Guiné Bissau, Angola, Moçambique ou Portugal, países que têm culturas totalmente diferentes da nossa.

Infelizmente, desvirtuaram o termo “missionário” nos dias de hoje no contexto brasileiro.

Missionário é o tele-evangelista, a esposa do pastor, o obreiro de obra social, o líder de alguma congregação ou de um grupo de oração.

Cremos que foi por isso que os missiólogos brasileiros cunharam um novo termo, “missionário transcultural”, para definir a classe esquecida, menosprezada e rejeitada e que precisa do nosso amor.

Ele deve receber o nosso carinho e apoio tanto quando estão nos campos como quando retornam à pátria. Devemos recebê-lo com muito apreço em nossos lares e igrejas, pois a Bíblia diz que alguns sem saber receberam anjos.

Este grupo de servos dedicados tem pago um alto preço, pois deixa família, amigos, irmãos, língua, cultura e país para se embrenhar em lugares difíceis e inóspitos para levar a mensagem de esperança, alegria e salvação, até mesmo disponilizar a bíblia na língua do povo.

Eles podem e devem figurar na lista do escritor aos Hebreus que os inclui na classificação daqueles de quem o mundo não era digno deles.

Por que mencionamos e o classificamos como escória?

Por definição, escória é a bolha, borra ou resíduo áspero proveniente da combustão de certas matérias e que para nada servem a não ser lixo, portanto, a escória representa o lixo de uma sociedade.
Talvez você questione: não seria um exagero considerar o “missionário transcultural” como escória da sociedade evangélica brasileira?
Contra fatos não há argumentos, então vejamos alguns deles expostos:

1 – Raramente, os pais cristãos brasileiros, desejam para seus filhos a carreira ministerial de missionário, pois subsiste a ideia, segundo Tonica, uma catedrática de missões, de que o missionário é “mártir, mendigo e maluco”.

Poderíamos acrescentar ainda que muitos o consideram um ignorante. Alguns líderes contestam o investimento no projeto REGIÃO, que contempla a graduação e pós graduação universitária como estratégia para evangelizar os estudantes em países “restritos”.

2 – Quando alguém escolhe a carreira ministerial, é enfaticamente desencorajado pela maioria dos pastores, amigos crentes e familiares. Imediatamente, os mais próximos mostram outras áreas onde ele possa servir, normalmente dentro da igreja local. Se ele persistir na visão transcultural não encontrará o apoio necessário para que possa prosseguir no ministério, isso ocasiona muitas desistências. Essa ideia é do tempo do Egito antigo onde o faraó disse que não deveria adorar aqui e quando o povo insistiu sair sua resposta foi que não deveria ir longe.

3 – Persiste a ideia de que o missionário é um ET ao escolher tal carreira, pois ele vai para os lugares que ocorrem desastres, fomes, pestes, desgraças, calamidade e onde o povo é oprimido. A maioria dos crentes foge de tais situações desconfortáveis. Há motivos para lhe ser impingido tal estereótipo, pois os desafios os motiva para ir aos lugares e situações mais perigosas, age como uma andorinha na expectativa de reverter os quadros tristes.

O apóstolo Paulo ao ver a fome que assolava a igreja na Judeia rodou o mundo da época para sanar tal situação, além de ir aos lugares mais difíceis e perigosos.

Jesus ao ver a multidão sofredora chorou! Esse sentimento de compaixão é inerente à vida do missionário.

4 – Os motivos para não investir no missionário são os mais diversos: alguns consideram a causa missionária como uma “loucura”; outros acham que o missionário é um “preguiçoso que não trabalha”; tem gente que acha que ser missionário é viver passeando devido a necessidade de se deslocar para diversos lugares levando a mensagem; há ainda os que questionam o fato de um missionário não pastorear igrejas, esquecem que ele é um desbravador ou pioneiro e que, muitas vezes, o pastoreio pode não ser a vontade de Deus para ele.

5 – Outra imagem persistente é a do missionário como um coitado a quem qualquer coisa serve e come qualquer coisa, aquele que ganha roupas e sapatos usados; que não pode possuir um carro novo e uma casa própria. Tal estigma contribui para justificar o não investimento em Missões. Muitos irmãos acreditam que o missionário não precisa de um bom sustento, pode passar fome e até morrer no campo, e não sentem nenhum remorso por pensar assim.

A realidade mostra que a média de investimento do crente brasileiro é de um vergonhoso valor de R$ 1,66 anual e que cerca de 99% da igreja brasileira não possui um missionário transcultural.

6 – Muitos pastores são sinceros e dizem que não querem que o missionário compartilhe suas experiências com a igreja, porque julgam o missionário como alguém em busca de dinheiro e não como alguém em busca de uma oportunidade para compartilhar o poder do Evangelho para salvar o pecador mais renitente.

7 – A prosperidade do Brasil, que está entre uma das 10 maiores economias mundiais, levou a maioria dos crentes a um “anestesiamento” a ponto de não querer ouvir os relatos dos campos. Um missionário na Indonésia, maior país muçulmano, com 768 línguas e culturas em 17.000 ilhas, nos disse que a maioria das pessoas lhe dá somente dois minutos para compartilhar suas experiências, mesmo sendo uma pessoa dinâmica e bem preparada.

Sabemos que o que tem motivado muitos crentes no momento é a marca do carro, o apartamento ou a casa a serem adquiridos; o curso a ser feito ou o lugar das próximas férias. A maioria dos evangélicos e líderes está tão centrada em si mesma que não se interessa nem em ouvir os relatos dos campos.

8 – O crescimento astronômico das igrejas no Brasil e a prosperidade da nação levaram a um aumento na arrecadação das mega igrejas. Esta grande entrada de dinheiro nas igrejas leva alguns pastores presidentes a receber valores abusivos de 200 salários mínimos mensais, adquirir carros importados, mansões, fazendas, jatinhos e helicópteros.
Será que isso ocorreu por causa da grande influência da “Teologia da Prosperidade” e do pensamento egoísta que não contempla o coração generoso de servir ao Senhor com os bens que foram entregues por Ele para expansão do Seu Reino na terra e abençoar os menos privilegiados?

9 – O quadro econômico atual mostra que, em alguns anos, o valor do salário mínimo, saltou de US$ 75 para US$ 200, mas que antes do aumento chegou US $ 300 . Isso poderia ter levado a quadruplicar o número de missionários, mas não foi o que ocorreu.

As estatísticas revelam que no final dos anos 80 havia um crescimento de 12,8% no envio de missionários, mas que em meados da década passada esse percentual caiu para 3,5%.

Qual é a realidade no momento?

Pouquíssimas igrejas sustentam integralmente um missionário, a maioria depende do apoio de diversas igrejas e pessoas, o que ocasiona um outro problema: quando volta do campo para descansar, o missionário ainda tem o trabalho estafante de visitar a todos para manter o sustento.
Alguns chegam a ter o sustento cortado quando estão de volta à sua pátria. Até líderes de missões super dimencionaram as estatísticas acrescentando na lista de missionários transculturais os que trabalham no sertão, ribeirinhos e outros não transculturais. Uma lástima!

10 – Para cada grupo de 100.000 crentes brasileiros temos um missionário transcultural na Janela 10-40, região onde se encontra 95% dos povos não alcançados da terra. 99% das igrejas no Brasil não tem um missionário transcultural.

O contraste é visto na igreja moraviana do século XVIII, que não tinha os mesmos recursos financeiros, informações e meios tecnológicos como avião, internet, TV, carros, computadores, mas havia um missionário para cada 12 membros.

O que os diferenciava é que possuíam uma paixão e compaixão inatas.

Eles chegaram aos cinco continentes e o exemplo deles nunca mais foi repetido na história.

As palavras a seguir foram proferidas pelo apóstolo Paulo em continuação ao texto bíblico inicial registrado em 1 Coríntios capítulo 4 da NVI.

“Não estou tentando envergonhá-los ao escrever estas coisas, mas procuro adverti-los, como a meus filhos amados”.

Que o Senhor ajude a igreja e os líderes a reconhecer e valorizar o ministério transcultural! Que aqueles que verdadeiramente amam ao Senhor possam investir na formação, envio e cuidado dos missionários!

Que o estigma aqui exposto possa ser mudado para que o término da tarefa da evangelização mundial possa ser realizado ainda nesta geração!

No amor do Senhor das nações,
David Botelho

HORIZONTES AMÉRICA LATINA – www.mhorizontes.org.br davidbotelho85@gmail.com
35-3438-1546/98873.2797

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