No conhecido livro Cristianismo puro e simples, C.S. Lewis não pretendeu elaborar um tratado teológico, dantes esclarece que seu objetivo foi apresentar reflexões acerca da fé e da vida cristãs no cotidiano. Na segunda parte do livro, o autor expõe “No que acreditam os cristãos”:
- É fundamental ao cristão ter a mente, a vida e o comportamento transformados visto haver um sentido para a existência e este é a adoração a Deus.
- O cristão se aproxima de Deus pela fé que não é algo simplista e pressupõe esforço para agradar a Deus e requer que não nos “cansemos de fazer o bem”, haja vista que o homem é dotado de livre arbítrio (que, por sua vez, implica responsabilidade).
- Deus é amor e por ele, o homem pode se arrepender do pecado e efetivamente, por Cristo e em Cristo, alcançar perdão e vida plena.
Ciente da vida transformada, pela fé, esforça-se para ser íntegro e assim cumprir o objetivo do cristão que é adorar a Deus. A vida abundante do cristão é possível não porque ele é bom, é Deus que o torna bom por amá-lo e operar nele.
E essa vida abundante é para todos os povos. Não há indivíduos privilegiados ao passo que outros são excluídos. Deus quer ser adorado em toda a terra e para que esse propósito se cumpra há uma parcela de responsabilidade (e privilégio) para cada cristão. Logo, a resposta para a indagação “por que fazer missões?” pode ser “para alcançar os perdidos”, “para salvação das almas”, “para anunciar o evangelho”. As respostas estão parcialmente corretas, porque o objetivo primordial é a adoração a Deus, Ele é digno de toda a glória. O conhecido pastor John Piper afirma em seu livro Alegrem-se os povos:
“As missões não representam o alvo principal da Igreja, a adoração sim. As missões existem porque não existe adoração, esta sim fundamental, pois Deus é essencial, e não o homem. Quando esta era se encerrar e os incontáveis milhões de redimidos estiverem perante o trono de Deus, não haverá mais missões. Elas representam, no momento, uma necessidade temporária, mas a adoração permanece para sempre. A adoração é, portanto, o combustível e a meta das missões.”
E não nos esqueçamos de João 4.23-24 – “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” Neste e em outros textos bíblicos, é notório que Deus quer ser adorado entre todos os povos da terra e missões são o modo de concretizar tal alvo.
O verdadeiro adorador está imbuído da responsabilidade de anunciar o evangelho para a glória de Deus e entende que isto é um privilégio porque como humano imperfeito e falível, percebe-se partícipe do propósito divino. Antes de qualquer pregação, o verdadeiro adorador quer compartilhar a paixão que nutre por Deus, falar de sua glória, do quanto é excelso, onipotente, santo e amável.
E não é incoerente afirmar que o comprometimento com as missões está diretamente relacionado com o envolvimento na adoração. Em outras palavras, o cristão (a igreja) que adora a Deus como ensinam as Escrituras, não admite a possibilidade de não proclamá-lo aos demais, tanto aos mais próximos quanto aos mais distantes (em Jerusalém, Judéia e Samaria, e os confins da terra – At 1.8).
A fim de enfatizar a adoração como princípio vital das missões, considere o desafio de atuação no campo transcultural que requer do missionário contextualização; aprendizagem da língua, dos costumes e dos hábitos distintos dos seus; compreensão da cosmovisão e superação dos obstáculos sociais e políticos. Em todo o processo, caso o missionário não estiver ciente em quem crê, no que crê e porque crê, terá dificuldades em permanecer no campo e obter sucesso no trabalho. A firmeza no que acredita é decorrente da adoração e comunhão com o Senhor das missões.
Em sua argumentação, C.S. Lewis foi preciso ao indicar “no que acreditam os cristãos”, pontuando que a adoração é o centro da vida cristã. Quanto maior é a adoração, maior será o ardor missionário e à medida que a ação dos missionários for efetivada, o Espírito Santo trabalha nos corações e na vida dos ouvintes, convencendo-os (Jo 16.8) e o número de adoradores aumentará entre os povos. Assim, Deus é glorificado.
Também é verdadeiro o entusiasmo de John Piper de que os milhões de redimidos frente ao trono de Deus (Ap 7.9) marcará o encerramento das missões. É preciso perseverar no apoio, preparo, envio e sustento de missionários para todas as partes do planeta. E ainda que pareça que os resultados não sejam visíveis, eles são reais e eternos, são parte de um processo planejado (e controlado) pelo próprio Deus e por isso, não nos esqueçamos de que “missão existe para que haja adoração; e a adoração é o resultado pleno da missão” (Ronaldo Lidório).
Colunista: Sandra Mara Dantas
Texto maravilho, onde destaca a verdadeira vocação do trabalho missionário, sua dedicação, adoração, gratidão, e a esperança.
Excelente explanação! Deus te abençoe!