O primeiro Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil, divulgado nesta sexta-feira, 22, pelo Ministério da Saúde, informa que os maiores índices de mortalidade estão entre os povos indígenas. A taxa entre os índios é quase três vezes maior (15,2), a cada 100 mil habitantes, do que o registrado entre os brancos (5,9) e negros (4,7), aponta o boletim. A divulgação dos números abarca um período de óbitos e tentativas de suicídios entre 2011 e 2016.

Entre os jovens indígenas está o maior número de suicídios. A faixa etária de 10 a 19 anos concentra 44,8% dos óbitos – brancos e negros possuem a mesma porcentagem, 5,7%. Em pelo menos mais uma faixa etária, o suicídio entre os indígenas é maior: dos 20 aos 29 anos, correspondendo a 30% dos registros ante quase 20% de brancos e negros. Na medida em que a idade avança para os indígenas, o índice cai: entre 30 e 39 anos, 15%; 40 a 49 anos, 10%; 50 a 59 anos, 5%; 60 em diante, menos de 5%.

As mulheres indígenas também possuem taxas mais elevadas de óbitos por atentados contra a própria vida (7,7) se comparado com mulheres brancas (2,7) e negras (1,9). Entre os homens, no entanto, a quantidade de suicídios é bem mais acentuada: 23,1 – brancos (9,5) e negros (7,6). Os indígenas correspondem a 0,47% da população do Brasil, com 896.917 indivíduos (IBGE,2010). Dessa maneira, o suicídio entre as populações indígenas é considerado um sério problema de saúde – sobretudo porque está concentrado na infância, adolescência e juventude.

O suicídio entre crianças e jovens indígenas no Brasil, por exemplo, foi classificado como pandemia por pesquisa do Programa de Estudos sobre Violência da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (Flacso). O relatório ‘Violência Letal Contra as Crianças e Adolescentes do Brasil’, divulgado em junho de 2016, aponta que em ao menos um município, 100% do total de suicídios entre indígenas ocorreu na faixa dos 10 e 19 anos. Dos 17 municípios com número igual ou superior a 10 mil crianças e jovens – critério para o levantamento – , com alta densidade populacional indígena, 327 indígenas acima dos 20 anos se suicidaram entre 2009 e 2013. Desse total, 163 crianças e adolescentes tiraram a própria vida – quase a metade do número final e a maioria em relação às demais faixas etárias reunidas.

“Vemos nos municípios arrolados que os suicídios na faixa de 10 a 19 anos representam entre 33,3%, em São Gabriel da Cachoeira (AM), e 100%, em Tacuru (MS), do total de suicídios indígenas, verdadeira situação pandêmica de suicídios de jovens indígenas”, destaca trecho do relatório. No Mato Grosso do Sul, a pesquisa aponta 5,2% suicídios de crianças e jovens por 100 mil habitantes. No Amazonas, a taxa é de 4,0%. A mortandade suicida nestes estados é puxada de forma trágica pelas crianças e jovens indígenas, conforme constataram os pesquisadores. AM e MS são os que mais possuem municípios envolvidos no suicídio entre a faixa etária do estudo.

Um estudo das Nações Unidas (ONU) de 2009 coloca o suicídio dos jovens indígenas em um contexto de discriminação, marginalização, colonização traumática e perda das formas tradicionais de vida, mas adverte sobre a complexidade dos fatores que intervêm na transmissão desses traumas entre gerações na forma de comportamento suicida. “A marginalização desses jovens tanto em suas próprias comunidades, ao não encontrar nelas um lugar adequado às suas necessidades, quanto nas sociedades envolventes, pela profunda discriminação, forja um sentimento de isolamento social que pode conduzir a reações autodestrutivas do ponto de vista ocidental”, diz trecho do estudo.

Setembro Amarelo

O Ministério da Saúde decidiu pelo lançamento este mês devido ao Setembro Amarelo, período de campanha determinado para a prevenção e a importância da conscientização sobre o assunto. Conforme a amostragem, o número de suicídios aumentou sendo a quarta principal causa de morte no país.

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