Com 20 e poucos anos comecei a refletir sobre o tema ‘plano de carreira’. Eu achava que as empresas deveriam ter algo a mais para oferecer, não somente um pacote de salários e benefícios, mas também possibilidades claras de futuro. Eu achava que essa era uma responsabilidade da empresa até que, pesquisando sobre o assunto, descobri que eu podia ter o meu próprio plano de carreira e não depender de ninguém para isso. Estudei na internet sobre como desenvolver um plano de carreira, o que resultou em um documento com mais de 10 páginas de estratégias, autoavaliações, objetivos de curto e longo prazo, gráficos e cenários. Eu revisava meu plano de carreira trimestralmente com o objetivo de mantê-lo vivo, registrava as alterações feitas a cada revisão e perseguia as minhas metas todos os dias para conseguir aquilo que eu queria.

Essa ambição por sucesso acabou me deixando dependente em alinhar o que eu tinha planejado na minha vida profissional com todo o resto. Aquele documento não era só um plano de carreira, mas se tornou o plano da minha vida. E todo esse meu foco na carreira profissional fez com que eu conquistasse alguns feitos interessantes ainda cedo na carreira: com 19 anos, no terceiro ano da faculdade, era o diretor presidente da empresa júnior de economia (ECAE-UEL) da Universidade Estadual de Londrina, onde trabalhei por quase 3 anos prestando consultoria financeira para pequenas empresas e liderava mais de 20 pessoas; com 20 anos fui contratado como gerente financeiro de uma empresa de software (Guenka Software) e com 23 anos havia implantado sistemas da qualidade baseado em certificação ISO 9001 em duas empresas, uma de telha de cimento (La Casa Telhas) e outra de aros e rodas de bicicleta (Vzan). Com 24 anos fui contratado por uma multinacional dinamarquesa líder do mercado de biotecnologia com sede brasileira em Curitiba (Novozymes). A vaga exigia inglês fluente, que eu não tinha nem de longe. Tinha ido ao Paraguai duas vezes, o que nem podemos contar como viagem internacional, até porque uma das vezes fui como ‘laranja’ para um amigo comerciante. Enfim, mesmo assim cheguei até a entrevista final com a vice-presidente da Dinamarca. Em uma das perguntas ela quis saber qual era a percepção das pessoas do meu trabalho sobre mim. Eu respondi: “nobody loves me”. Quem entende o mínimo de inglês, sabe que não foi uma boa resposta. Essa classuda senhora dinamarquesa dava gargalhadas no meio da entrevista…mas por algum motivo ela disse que eu era a pessoa certa para a vaga, me aprovou e fui contratado. Ela conseguiu enxergar um potencial que não estava no falar inglês ou não, talvez algo que nem eu mesmo sabia ainda. Com 9 meses nessa empresa, eles já tinham me enviado para os EUA, China (onde completei 24 anos – foto) e Dinamarca. Tudo o que eu vivi e aprendi nos 5 anos trabalhando nessa empresa foi bem mais otimista do que meus melhores cenários do plano de carreira, infinitas vezes mais do que eu tinha planejado.

meu pequeno surpresa bolo de 24 anos na China - 8/6/2011
meu pequeno surpresa bolo de 24 anos na China – 8/6/2011

Com 26 anos em uma viagem a trabalho aos EUA, fiz uma conexão de 3 dias em Houston/Texas para um evento cristão chamado ‘Passion Conference’ (foto). Era dia 15/2/2014, durante esse sermão de um pastor chamado Francis Chan – autor do livro ‘Louco Amor’ – quando ouvi de Deus um chamado missionário. Foi um chamado específico, uma chamada para fazer missões através de negócios. Eu entendi isso com perfeita clareza, a voz de Deus foi inconfundível, mas eu não compreendi direito como eu poderia executar isso. Foi uma experiência real e eu tenho convicção de ter ouvido a voz de Deus de forma pessoal.

Passion Conference Houston/Texas, EUA - Fevereiro/2014
Passion Conference Houston/Texas, EUA – Fevereiro/2014

Dois meses depois eu precisei tomar a decisão mais difícil da minha vida, uma decisão que envolvia aquilo que era mais precioso para mim, minha carreira. Meu próximo passo do plano de carreira era uma vaga de expatriado e finalmente chegou esse convite do meu chefe americano para me transferir para os EUA. Uma proposta incrível, como eu sonhava e planejava há muito tempo. Entretanto, ao mesmo tempo, eu recebi outra proposta da mesma empresa, para me juntar a uma equipe em São Paulo em um ambicioso projeto de desenvolvimento de negócios no setor de biocombustíveis. Fiquei bastante incomodado com os meus sentimentos porque pra mim, teoricamente, seria uma decisão muito fácil entre ‘o sonho americano versus o caos paulistano’. Mas não foi bem assim! Resolvi pedir conselhos, mas todos eram bem divergentes, inclusive dos meus pais. Fiz análises estatísticas, cenários, tentei quantificar a decisão, mas os números empatavam. Cada manhã eu acordava propenso a uma decisão diferente, nada funcionava! Foi então que resolvi parar tudo e orar. Entreguei tudo o que eu havia planejado para Deus. Entreguei todos os meus cenários e projeções de possibilidades. Abri mão de tomar essa decisão e pedi para que Deus decidisse por mim. Foi então que, durante um café em uma loja da Starbucks nos EUA, senti uma paz assustadora e tranquilizadora de que eu precisava ficar no Brasil porque ‘a loucura de Deus é mais sábia do que a sabedoria dos homens’ 1 Coríntios 1:25.

Tive a convicção em paz de que eu precisava, acredito que foi uma experiência sobrenatural. Rejeitei a proposta de trabalho nos EUA e fui transferido de Curitiba para São Paulo em Agosto/2014 e foi lá onde eu pude entender melhor para o que Deus estava me chamando. Fiz um curso chamado ‘Perspectivas’, um mini MBA de missões onde pude entender melhor sobre o que é a missão de Deus e quais as diversas formas de se fazer missões, que vão muito além do que o modelo tradicional que estamos geralmente acostumados a ouvir. Missões não é somente aquela pessoa que larga tudo e vai pro meio da África, esse é um dos modelos possíveis. Foi também a primeira vez que ouvi de um pastor coreano da minha igreja (Igreja Presbiteriana de Pinheiros) sobre o Movimento Lausanne e o conceito de ‘Business as Mission’ ou BaM. Então percebi que havia um movimento global onde Deus têm chamado pessoas de negócios, empreendedores e profissionais, para usar suas habilidades de forma intencional e compartilhar o Evangelho com aquelas que nunca tiveram a oportunidade de ouvir até agora. Fiquei maravilhado, entendi que era exatamente isso o que eu deveria fazer! Esse conceito fazia total sentido com o que eu havia ouvido de Deus no início daquele mesmo ano.

Entrei em 2015 já entendendo melhor sobre aquela chamada missionária, mas eu precisava me capacitar e muito. Podia ser até bom em finanças e planejamento, mas e o resto? Pesquisei na internet sobre quem estava fazendo isso no Brasil e o mundo. Conheci Sergio Kazuo, um brasileiro que já estava atuando como mobilizador de BaM no Brasil há 3 anos e tinha organizado eventos com os principais preletores mundiais em várias cidades do país. Sérgio estava iniciando a equipe do PEM – Profissionais e Empresas em Missão – e me convidou para fazer parte dessa diretoria depois que contei toda essa história pra ele. O PEM é o departamento da AMTB responsável por disseminar a visão de fazedores de tendas e Business as Mission no Brasil por meio de igrejas, conferências e equipar agências missionárias para executarem estratégias de negócios em missões. Conheci também uma amável senhora chamada Nora Hughes que vive na Califórnia e há décadas atua nessa área de negócios e missões. Nora já morou e estabeleceu negócios na China, Malásia, Cazaquistão e outros. Tivemos uma empatia muito forte e há mais de um ano ela é minha principal mentora nesse tema. Falamos sempre por Skype, fui aos EUA para conhecê-la e em Abril/16 ela vem ao Brasil pela primeira vez. Nora (foto) é fundadora e CEO da B4B (Business for Blessing).

Passagem de ano 31/12/2015 com Linda (chinesa que atua com negócios e missões no Cazaquistão) e Nora Hughes – St. Loius/Missouri, EUA

Depois disso, me matriculei no ‘Seminário Teológico Servo de Cristo’ para estudar missiologia, o que pra mim foi um momento histórico porque nunca na minha vida eu achei que entraria em um Seminário. Conheci um mestre chamado Marcos Amado, professor, missionário no mundo árabe por muitos anos e idealizador do Martureo. Hoje é um privilégio tê-lo como mentor em missões. Nessa altura do campeonato, eu já estava completamente fora do meu plano de carreira, eu tinha abandonado tudo o que eu tinha planejado para mim mesmo. Seguia trabalhando na área de desenvolvimento de negócios na indústria de biocombustíveis, mas pensando e orando em como seria o próximo passo com relação a tudo isso. Até que em Abril de 2015, participei de um evento chamado ‘Vocare’, o primeiro congresso de um movimento que estava começando. No ‘Vocare’ aprovei e apresentei meu primeiro projeto de empresa BaM, uma empresa confecção de roupas que traria inovações e projetos de responsabilidade social. Foi uma primeira ideia que atualmente estamos pivotando pela terceira vez e está bem diferente do que o conceito original e muito mais interessante. Enfim, ao apresentar esse projeto no ‘Vocare’ muitas portas se abriram e muitos contatos importantes se iniciaram. Eu não perderia os próximos eventos por nada, Deus está convocando os jovens cristãos brasileiros para fazer a diferença na nossa sociedade e melhorar o nosso país que tanto precisa, agora mais do que nunca.

Apresentando o projeto BaM no Vocare - Abril/2015
Apresentando o projeto BaM no Vocare – Abril/2015

No final de 2015, fui selecionado pelo Movimento Lausanne para participar de um congresso chamado ‘Young Leaders Gathering‘ na Indonésia onde um comitê internacional selecionou 1.000 jovens de mais de 150 países para se reunirem e planejarem de forma estratégica os próximos 10 anos em missões globais. Estamos nos preparando para esse encontro que acontecerá em Agosto/2016 em Jakarta e tenho a convicção de que negócios é um dos principais pilares dessa estratégia a longo prazo.

Há quase 2 anos desde quando recebi o chamado, muita coisa aconteceu em ritmo acelerado, mas organicamente, no tempo certo. Em Dezembro/15 abandonei minha carreira como executivo de empresas e hoje estou 100% dedicado em ser um empreendedor. Porém, não um empreendedor comum, mas um empreendedor com chamado missionário, para desenvolver empresas de impacto transformador na sociedade, no Brasil e em outros lugares do mundo, com o objetivo final de levar a preciosa mensagem do Evangelho aos povos não-alcançados, através de negócios reais, sustentáveis e rentáveis.

Sei que demorei um ano para entender o chamado, um ano para capacitar e desenvolver os relacionamentos necessários. Pois então, 2016 é o ano do treinamento prático, de muito trabalho, de perseguir o maior desafio da minha vida, que não foi criado por mim, mas delegado por Deus. Essa carreira não foi planejada pelas minha inteligência estratégica, alguém muito maior planejou tudo isso. Quando vejo tudo que já está acontecendo, penso que nunca poderia ter sido tão assertivo. E essa é história de como vim parar em missões. Tentei ser o mais objetivo possível para o texto não ficar tão comprido rs

Se você é uma mulher ou homem de negócios, cristão ou não, quero deixar apenas essa mensagem: existe um significado de vida muito maior do que a vida corporativa em si, com impactos eternos, onde você pode ser completamente realizado ao usar tudo o que você sabe não para sua a glória, mas para aquele que criou todas as coisas. Não para você ser reconhecido por alguém, mas para que Cristo seja reconhecido a partir do seu trabalho. Somos criativos, porque somos feitos a imagem e semelhança de um Deus Criador (Gn 1:26). Criamos porque Ele cria. Somos empreendedores, porque Deus é empreendedor. Empreendemos porque Ele empreende.

Em missão,

Paulo

texto publicado no site Missões e Negócios

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