A voadeira rasga as águas do imenso Rio Uatumã, afluente da margem esquerda do rio Amazonas,  pilotada pela missionária Flávia Panzea,  que na pequena embarcação leva o Evangelho de Cristo às comunidades ribeirinhas. Os perigos do rio, como o “banzeiro” –  ondas provocadas pelo vento e que são capazes de virar uma embarcação – não intimidam a brasiliense de 38 anos que deixou a capital federal há quase 7 anos por amor a Deus e amor àqueles que ainda não conhecem a Cristo. “Depois de uma visita à comunidade ribeirinha do Jacarequara meu coração ficou impactado. Voltei para Brasília, mas parte de mim ficou com os ribeirinhos. Aí tive certeza que Deus me queria no Amazonas”, afirma Flávia.

A missionária da Missão Cristã do Brasil (MCB) chegou ao Amazonas em março de 2011. Ela se juntou ao grupo do Projeto “Amazônia: Cristo, Vida e Saúde”, da Central Brazil Mission,  responsável há 18 anos pelo Barco da Amazônia, que leva profissionais da área da saúde ao longo dos muitos afluentes do rio Amazonas. A base deste trabalho está localizada no município de São Sebastião do Uatumã. A cidade ribeirinha parece com uma das milhares de  cidades do interior do Brasil. A diferença é que só é possível chegar pela via fluvial. O trajeto começa em Manaus e após uma viagem de quatro horas de carro chega-se ao município de Itapiranga, último local onde é possível chegar pela via terrestre. A partir daí uma lancha “ônibus” faz o trajeto de cerca de uma hora e meia até  São Sebastião do Uatumã.

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Flávia Panzea foi para o Amazonas com a tarefa de dedicar-se ao ministério infantil, sua grande paixão. Logo, percebeu que havia também muitos adolescentes e adultos sem ainda conhecer o poder transformador do Evangelho. Mas, o obstáculo era o transporte. Como se deslocar até as comunidades? Corajosa, aprendeu a pilotar o pequeno barco apelidado de voadeira, pois parece voar nas águas. A partir daí, começou a  percorrer regularmente as diversas comunidades. Desde setembro de 2016 trabalha diretamente com três comunidades e supervisiona outras quatro, num total de sete povoados ribeirinhos subindo o Rio Uatumã. Bacharel em Teologia pela Faculdade Evangélica de Taguatinga, no Distrito Federal, Flávia Panzea também é formada em missões e plantação de igrejas pelo Centro de Treinamento Missionário (CTM) das Igrejas de Cristo, onde permaneceu por três anos. Atualmente o CTM faz parte do Seminário Teológico Cristão do Brasil (STCB).

sala de aula

Pilotando a voadeira, subir e descer o Rio Uatumã passou a ser habitual para a missionária da MCB. Flávia escolheu Jacarequara para ter sua casa de madeira e poder pousar entre uma viagem e outra para as comunidades. A cada 15 ou 20 dias ela se desloca na voadeira até São Sebastião do Uatumã numa viagem de duas horas para comprar alimentos e combustível para o barco. Nas comunidades, a vida é simples.  Crianças e adolescentes frequentam a escola.  A base da alimentação é o peixe e, também, a macaxeira.  Luz elétrica apenas de 7 às 10 da noite quando o gerador a diesel é ligado pelo líder escolhido pelos próprios ribeirinhos. Alguns confortos ficam para trás como geladeira e ventilador. Para enfrentar os mosquitos, que podem transmitir a malária, a solução é repelente à base de andiroba – típica da região e de onde é extraído o óleo  –. Telefone e Internet também não fazem parte do dia-a-dia das comunidades ribeirinhas.  O rádio, para alguns, é o companheiro de todas as horas.

Mas, nada disso impede o trabalho evangelístico de Flávia Panzea. Aliás, os ribeirinhos são gratos pela presença da missionária entre eles. “Ela foi a primeira a estar aqui prá falar das coisas de Deus prá gente”, diz dona Emília, da comunidade do Cubuacá. Para dona Alesandra, da comunidade do Caiauá, recém batizada nas águas, “dona Flávia explica tudo muito bem” sobre Jesus. “Nossa vida era só bagunça quando a gente não conhecia Jesus. Aí veio a dona Flávia falou de Deus e agora a gente sabe que é melhor ter Jesus na nossa vida…vou sentir falta quando ela for embora, mas quero que Deus abençoe muito os caminhos dela”, afirma com lágrimas nos olhos a ribeirinha.

Flávia Panzea é grata a Deus pela oportunidade de trabalhar junto aos ribeirinhos. “Estar no Amazonas durante essa jornada de  6 anos e 9 meses foi uma oportunidade para caminhar “com” Cristo e “em” Cristo, pois, em todos os dias eu pude desfrutar de sua presença, cuidado, provisão, proteção e amor. Eu o conheci como um Deus real, poderoso, presente, pessoal, como Pai, como amigo,  um Deus de amor, que vive em mim, para que eu seja uma com Ele e que assim outros possam vê-lo em mim e se apaixonar  por Ele também”, ressalta.

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“Tudo que eu vivi no Amazonas, coisas boas e ruins, as lutas, alegrias, dores, tristezas, vitórias, decepções, realizações, angústias, medos, perigos de morte me revelaram a face e o amor de Deus, meu Pai. Conheci pessoas maravilhosas nessa jornada que me fizeram entender o que é amor, compaixão. A vida é uma caminhada de dar e receber, contudo se tirarmos os olhos de Cristo não conseguiremos percebê-lo. E fácil percebê-lo quando estamos em perigo… mas o desafio da vida e percebê-lo quando tudo vai bem… aí sim de fato saberemos que Ele está em nós”, avalia a missionária da MCB.

No ano que vem, Flávia Panzea deixará o  Amazonas para retomar os estudos.  O objetivo é cursar um mestrado na área de missões e, assim, “tornar-se, cada vez mais, uma ferramenta útil nas mãos de Deus” para abençoar as vidas, independente do lugar que Deus a colocar.

 

Texto Gizele Benitz – Missionária e jornalista da Missão Cristã do Brasil

 

 

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